sexta-feira, 29 de maio de 2009

O olhar da senhora

Há dias, estava eu indo ao cursinho, quando o ônibus parou num daqueles tubos, tudo muito normal, pura rotina.
Atrás do tubo tinha um prédio, antigo, embolorado pela chuva e pelo tempo, não se sabe se ele era marrom pela tinta ou pela sujeira. Janelas antigas, cinzas, gradeadas. Ele divia ter uns três ou quatro andares.
Tudo estaria muito normal se eu não tivesse avistado num apartamento uma senhora, devia ter seus oitenta anos ou mais... Ou menos, se a vida não lhe foi favorável. Só sei que ela estava lá na janela, com uma blusa de lã azul também muito antiga, num quarto cujo armário era de madeira, antiquado. Ela estava lá, olhando fixamente para a rua e para as pessoas que se movimentavam sem pensar ou simplesmente sem perceber o olhar da triste senhora.
Depois de um certo tempo, voltou-se para seus braços, para suas mãos, como se estivesse olhando para dentro de si mesma. Devia estar pensando em tudo o que viveu, que viu, e aquilo que infelizmente deixou de fazer ou de ver. Observou detalhadamente sua mão, e logo voltou a olhar a rua movimentada da frente da sua casa. E o biarticulado saiu, e eu voltei para a minha rotina.
Triste senhora aquela, que provavelmente envelheceu naquele prédiozinho, o qual não se sabe até quando durará sustentado pelas antigas paredes, ou será destruído para a vinda de outro prédio, mais novo e imponente, mas que cuja história não será diferente.
Olho para aquele lugar quase todos os dias. O prédio continua ali, firme, mas velho. A senhora, bom, sua janela agora se encontra fechada.



"Não posso mover meus passos
por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
_ pois sinto bater os sinos,
percebo o roçar das rezas,
vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação.
(...)
ó grandes muros sem eco,
presídios de sal e treva
onde os homens padeceram
sua vasta solidão..." - Cecília Meireles.

2 comentários:

Guigo disse...

Por isso busco envelhecer com a certeza de ter feito meu melhor!

Myrian disse...

Gosto do modo que escreve, estou lendo e vendo a menina que eu era, eu tb escrevia assim , pena que na minha epoca não guardei meus escritos, joguei muito deles fora.Mas gosto de escrever sobre pessoas e dores, sobre o infinito e a alma.continue assim, escrever é expurgar os sentimentos.
bjs